O-Cavalo-de-Ogum

O CAVALO DE OGUM

O católico.

Era uma paróquia distante, num canto do mundo, perdida e vazia, eram poucas pessoas a assistirem a missa, metade dos poucos, la dentro fieis, la fora, nem tanto.
Tão pouco havia encanto nos olhares dos párocos, e o padre, um velho senhor, ordenado a muito tempo, vivia sua vida sem medo, por acreditava no seu intento, e passava suas mensagens para as ovelhas, as vezes arredias e sem eira nem beira.
Dizia o padre em seu sermão, na intento de ensinar seus filhos:
– Entendam que ha muito tempo quando me ordenei, havia uma irmã freira a muito tempo no comando da paroquia que assumi, despertei nela um sentimento negativo de inveja, dentro da mesma religião, ela fez o que pode para destruir meu sonho mas permaneci forte na minha batalha interior, pois assim são todos os que vocês conhecem, cada um deles, trava uma batalha interior, busca uma mudança, tem uma guerra própria na melhor nem pior que a que você tem.

O cavalo de Ogum​​

Dentro de uma casa humilde, com diversas crianças correndo pelos pequenos aposentos estava sentado um homem, com um bigode bem cortado, o cabelo penteado, ainda que comprido, as rugas e as marcas faciais mostravam a vida difícil que ele tinha tido de sol a sol, olhava para as crianças puras e sem problemas e lembrava de sua infância mesmo pobre, tinha sido muito feliz, assim como aquelas crianças, mas se lembrava de seu pai, esse sempre quieto, preocupado, ele hoje assim estava, vendo as crianças felizes na ingenuidade, mas preocupado em garantir que essas crianças tivessem direito a não se preocuparem.
Olhou para sua esposa, com a barriga quente no fogão, fazendo o ultimo saco de feijão, ele com apenas poucos trocados no bolso, não pensou, levantou, vestiu a camisa surrada e partiu na estrada de terra, sem avisar, foi e entrou, no primeiro bar, nunca tinha se rendido a bebida, pediu uma dose de “rabo de galo”, matou a no primeiro e único gole, respirou sentido o ardor da bebida, desa-frouxou a camisa, escutou um barulho de tambores, pendurou a bebida com o dono do bar e foi sentido ao barulho dos tambores, viu uma casa também muito simples, iluminada, e de lá vinham as batidas, achou ser uma festa e lá entrou, ao entrar foi recebido por uma senhora com uma especia de balde que saia fumaça, foi envolto por aquela fumaça e entrou, sem pensar, sentia se estranho, embora com calma, olhou e viu inúmeras pessoas com adereços de macumba, cocares, charutos, e três homens tocando o atabaque, parou e observou, nunca tinha entrado numa casa do diabo, sentiu se estranho e um forte calor começou subir por suas pernas… parou a prestar atenção na musica que os atabaqueiros cantavam:

– Ogum venceu a guerra, já mandei “zoia, zoia”, ogum venceu de lei, ja mandei “zoia, zoia”, ogum foi praça de cavalaria, guerreou dez anos na infantaria, de alferes ele passou a major, foi ordenança da virgem maria.

Nesse momento, perdeu os sentidos, para os presentes, a cena que se via era do mesmo homem esmurrando o peito e gritando

– ÔÔGUUUNHÊ!!!

Foi levado para junto do Pai de Santo que ajoelhou-se e agradeceu a presença e começou a cantar:

– EM CAVALO DE OGUM NINGUÉM PÕE A MÃO, ELE É SAGRADO MEU PAI, ELE É SAGRADO…

Enquanto isso o homem possuído girava e girava, dançando tipicamente como um religioso daquela filosofia, sem nunca ter pisado naquele local.
A entidade que tomou o corpo daquele senhor, disse que faria a vida dele melhorar, mas o faria através do sofrimento, pois só assim haveria aprendizado, pediu um trabalho que deveria ser entregue, na parte de trás de uma igreja, em nome dele, e assim deveria ser feito.
O pai de santo vendo a má situação financeira do senhor, ajudou com todos os utensílios e o senhor entregou tudo atras da igreja. No domingo, não segurou as lagrimas, quando o padre disse que aquilo tinha sido feito para destruí-lo…
Teria errado ele mais uma vez?

O Desespero

Foi para casa o católico macumbeiro cheio de dúvidas, pensando no seu feito sem astúcia, sempre se assustou com assuntos de macumba e acabou sendo pego, mas também tinha esperança pois aquele que se apresentou como Ogum disse que o ajudaria, mas tinha medo, pois viria tudo do sofrimento, não entendia, não sabia…
Chegou em sua casa, e esqueceu um pouco das duvidas, olhou seus quatro filhos, sua esposa, o menor estava mais feliz, o abraçou, disse que o amava e que tinha sonhado com um anjo, num cavalo branco, a mãe tinha dito que era são jorge, e que o anjo o protegeria.
O homem sem emprego, olhou pra sua plantação, mais nada produzia, mas também não podia pois não chovia.. naquela noite, orou a Deus, Jesus, Ogum e são jorge, pediu que viesse a chuva, pra sua plantação render e sair da difícil situação.
Pra seu espanto, uma chuva começou pequena, escassa, e pra seu desespero foi ficando cada vez mais forte, a aguá começou a invadir a casa humilde, o homem levantou alerta, viu a chuva tomar força, ira, os relâmpagos o assustavam, vinham como o barulho dos atabaques, sentiu que o medo se transformava em força, aquele calor nas pernas, começou a subir, as crianças despertaram com medo, a aguá invadia a casa, escutava estrondos, diferente de relâmpagos e escutou em seu ouvido:
– Tire todos os seus daqui, leve os a igreja, IMEDIATAMENTE!
Reconheceu aquele espirito de Ogum imediatamente, não pensou, pegou seu filho menor, sua esposa, e os outros dois filhos e os arrastou para fora de casa, enfrentaram a chuva, correram sentido a igreja, a chuva muito forte, os atrapalhava ate que uma arvore caiu em cima dele, prendendo sua perna num rochedo, ordenou a mulher que levasse a os filhos, ela obedeceu, para seu desespero, viu seu filho menor fugir das mãos da mãe, e voltar correndo, trazia nos olhos um brilho diferente, um porte robusto para uma criança de dez anos, era ele, OGUM, a criança com uma força incomum o libertou e com uma voz forte e o olho arregalado disse:

– CORRA PARA A IGREJA HOMEM!

O que seus olhos presenciaram não puderam acreditar, uma forte enxurrada de aguá passou e levou a criança fazendo com que a mesma se perdesse na enchente, ele morreria preso na arvore e no rochedo se não fosse o filho, correu desesperado e abrigou se na igreja, desesperado, contou ao padre todo o acontecido, e a morte de seu filho teria sido culpa dele por se meter na macumba.
O padre quieto apenas escutou, no dia seguinte, viu o padre sair, tinha sido muito gentil em deixa los abrigados na igreja ja que a sua casa tinha sido destruída pela chuva.
Horas depois, o padre voltou a igreja, acompanhado de um homem, ele reconheceu, era o Pai de Santo, traziam um brilho no olhar.
O padre rezou, e chamou o homem até ele, disse que não se culpasse, seu filho se tornava um anjo, o Pai de Santo por sua vez disse que seu filho teria se encantado, viraria um anjo sim, um falangeiro de “Ibeiji” o orixá criança.
O homem estranhou aqueles dois, mesmo diferentes, respeitando se, e aceitando nomenclaturas diferentes para a mesma situação, a triste morte de seu filho, o padre disse que a ele que ele tinha uma missão, mas um padre nada poderia fazer por ele, disse que fosse aprender com o Pai de Santo, e que seu filho viveria na morte protegido por são jorge, e para o pai de santo, OGUM.
O padre lançou uma campanha na igreja, reconstruíram a casa do homem, lhe arrumou um emprego, enquanto o Pai de Santo o arrumou doações com outros filhos de santo, a vida do homem melhorou, a mulher estava feliz, ele estava feliz e hoje, recebia suas entidades e espiritos, mas ia todos os domingos a missa, trabalhava, e dava uma vida melhor para seus filhos, voltou para a casa simples numa noite depois do trabalho, entrou, cumprimentou a família saiu e foi para uma pequeno barracão nos fundos, acendeu uma vela preta e vermelha no chão do lado fora, agradeceu a Exu, entrou, acendeu uma vela vermelha na altura do peito pra Ogum, e pra cima da cabeça acendeu uma vela branca para Deus e todos os santos, chorou, rezou, e ao lado da vela de Ogum, por fim, acendeu uma vela azul… colocou algumas balas, e lembrou de seu filho, agradecendo a ele e a Ogum, por ter sido dado a ele a segunda chance…
Naquele dia, Deus viu em seu coração a união religiosa, olhou para o padre e também a viu, olhou para o Pai de santo e também viu ali a união religiosa… Naquela noite, os anjos fizeram uma festa no céu, e entre os anjos e crianças, uma criança brilhava como uma estrela no céu, era o filho do homem, enviado para morrer e livra-lo dos males da vida, assim como jesus, renascer na espiritualidade como um anjo.
“onde houver um ou mais reunidos em meu nome, eu estarei presente.”
Amém e motumbá….

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